Encontrando nosso rumo através da floresta – refletindo sobre resiliência

Rubem Perlingeiro
Rubem Perlingeiro
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Encontrando nosso rumo através da floresta – refletindo sobre resiliência

Tradução livre e autorizada pelo autor, Dr. Tony Malone, Comissário de Inclusão do País de Gales, e Secretário-Geral do World Buddhist Scout Council. O texto original pode ser lido em www.scoutscymru.org.uk/news/finding-our-path-through-the-woods-reflecting-on-resilience.

Recentemente, vimos focando em resiliência como uma das habilidades fundamentais para a vida – a habilidade de encarar reveses e superar tempos difíceis. Mas, como parte disso, temos que reconhecer que cada um tem suas próprias reações a diferentes situações, tolerâncias diferentes e, de fato, diferentes interpretações da palavra “resiliência”.


Alguns desafios podem levar mais tempo para serem superados – e, às vezes, não conseguimos superá-los. Mas, no Movimento Escoteiro, não temos medo de dizer ‘está bem’. Dois dos nossos grandes valores Escoteiros são compaixão e integridade: nós cuidamos uns dos outros. Essa é uma parte fundamental do Movimento Escoteiro.

Olhando o mundo com um olhar diferente

Uma maneira que gosto de usar para explicar nossa abordagem do mundo como Escoteiros, especialmente para os membros mais jovens, é através das estórias do Ursinho Puff , de A. A. Milne. Essas estórias são naturalmente engraçadas e agradáveis, mas também apresentam uma mensagem valiosa. Pense sobre Christopher Robin e seus amigos – cada um tem suas próprias peculiaridades, mas isso não os impede de apreciar suas aventuras juntos. Veja esta passagem que transcrevi abaixo:


“Christopher Robin pegou um de seus amigos prediletos na prateleira, o Tigrão. Juntos partiram para uma nova aventura, excitados pelo dia adiante. Encontraram Leitão pelo caminho, que estava ansioso e nervoso, mas também corajoso e ávido pela aventura. Finalmente, encontraram Puff e Bisonho, e seu ritmo saltitante até então diminuiu para um passeio tranquilo pelo caminho a que sua aventura os conduzira. Eles viram seus outros amigos durante o passeio, como a amável Can, e o sábio, porém rabugento, Corujão, acenando-lhes e passando por eles.”


Nós usamos as estórias do Ursinho Puff na nossa seção de Castores [N.T.: Crianças de 05-07 anos, pré-alfabetizados] para situá-los como fazemos as coisas no Escotismo. As aventuras de Christopher Robin são muito parecidas com as grandes aventuras que vivemos juntos. Mas essas estórias também nos ensinam que por trás das coisas que fazemos no Movimento Escoteiro sempre há um significado mais profundo.

Aprendendo a lidar com suas emoções e experiências de vida


As estórias de Christopher Robin podem ser facilmente descritas como de um jovem lidando com sua própria saúde mental e bem-estar. Suas aventuras com Tigrão são entusiasmantes, ativas e, por vezes, inadvertidamente insensíveis a outros. Enquanto isso, com Bisonho, é frequente que haja tristeza e solidão, mas ainda esperança e beleza. As estórias de Christopher Robin nos dizem como os jovens percebem emoções, lidam com elas, moldam suas aventuras e experiências de vida por elas, e então – em alguns casos – devolvem-nas à prateleira. Em alguns casos, eles podem carregar certas emoções – a tristeza de Bisonho, a curiosidade de Puff – pelo resto de suas vidas.


A vida nunca é uma linha reta. Nunca é uma progressão linear no rumo do “bem” viver. Ao contrário, é como uma trilha tortuosa e acidentada na floresta, visitando todas as áreas das experiências humanas como alegria, compaixão e felicidade até as decepções, crises e tristeza.


No Escotismo, estamos todos excursionando por essas florestas – tanto os adultos quanto os jovens. Quando estamos perdidos ou com fome, às vezes, os adultos assumem a liderança e, em outros momentos, os jovens seguem à frente. Todas as pessoas percorrem esses caminhos, mas a diferença é que nós, Escoteiros, os percorremos juntos, com apoio mútuo e sem julgamento.

Moldando como vemos cada dia 


As atividades escoteiras que desenvolvem empatia, habilidades para a vida, gosto pela aventura, inclusão etc. assumem várias formas: uma caminhada, por exemplo, mas também velejar ou uma maratona de programação de computadores. Não importa onde nossas atividades nos levem; todos temos um ou mais dos amigos de Christopher Robin conosco, aquele amigo invisível que define como vemos o nosso dia.


Enquanto escrevo isso, tenho Leitão e Corujão aqui comigo. “Escreva sabiamente e seja amigável”, eles poderiam dizer. Possivelmente também se preocupariam, “Mas e se as pessoas não gostarem disso? E se eu não conseguir fazer sentido?” Espero que ouvindo esses dois amigos, e sabendo quando acolhê-los, eu possa chegar a um bom destino. A vida é uma aventura, e o Movimento Escoteiro é a chave para apreciá-la e compreendê-la.

Quando penso que não sou bom o suficiente, então o medo, nervosismo, estresse e ansiedade aparecem. Quando me lembro do fato de que somos todos interconectados, através dos amigos, do Escotismo, da fé, do trabalho, mesmo que à distância, eu descubro nessas comunidades uma esperança radiante e solidariedade. Rostos sorridentes que me oferecem felicidade para afastar daqueles medos. Em outros momentos, vejo que simplesmente passear com meu cachorro ou tomar uma xícara de café em paz é suficiente para melhorar como me sinto.

Dr. Tony Malone – Comissário de Inclusão do País de Gales

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