DERSU UZALA E O ESPÍRITO PERMANENTE DE NATAL

Rubem Perlingeiro
Rubem Perlingeiro
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DERSU UZALA

O filme Dersu Uzala conta a história de uma expedição científica do exército czarista pela bacia do rio Usurri, entre 1902 e 1907, comandada pelo capitão russo Vladimir Arsenyev, com o objetivo de fazer levantamentos topográficos e registrar a fauna e a flora do extremo oriental russo.
O capitão faz amizade com um caçador nativo, Dersu Uzala, um velho sábio que trata o sol, as estrelas, a água, o fogo, o vento, a neve, as árvores e os animais como pessoas. Ele ouve todas essas “pessoas” que vivem na taiga siberiana – a maior floresta fria do mundo – e conversa com elas.
Akira Kurosawa mostra o crescimento da amizade do capitão russo com o caçador, que lhe serve de guia. Depois de uma tempestade de neve, os dois conseguem se refugiar numa cabana no meio da floresta, onde descansam. No dia seguinte, antes de partirem, Dersu, o homem da floresta, abastece o fogão com lenha, separa um pouco de sal e estoca alimentos não perecíveis na cabana. Divide assim o pouco que tem para surpresa do capitão russo, o homem da cidade, que lhe diz:
“Dersu, isso é um desperdício. É inútil deixar mantimentos aqui, nós nunca mais voltaremos a esse lugar.”
O caçador, então, explica que não é para eles dois, mas para uma pessoa que chegue ali cansado e com frio, em busca de abrigo, de calor e de alimento.
O capitão russo, um homem de ciência, civilizado, com escolaridade, fica surpreso diante da ética da solidariedade, do desprendimento, do pensar no outro que está presente no comportamento do homem simples, sem escolaridade, e que tem naturalmente dentro de si, mesmo sem saber, o espírito de Natal.

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