A Lenda Ubasuteyama e o Dia das Mães

Rubem Perlingeiro
Rubem Perlingeiro
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A Lenda Ubasuteyama e o Dia das Mães

Baseada na Lenda Ubasuteyama, dizem que esta estória foi contada pelo monge budista Jokan Chikazumi a Einstein na ocasião em que ele visitou o Japão e teria perguntado ao monge “o que é Buda?”

Houve uma época no Japão em que os alimentos estavam muito escassos. Em certo vilarejo, havia o costume de se abandonar idosos na montanha, depois que alcançavam certa idade, para poder racionar mais alimentos para os mais jovens.

Um certo jovem camponês, que morava no sopé dessa montanha, viu-se então diante da condição de ter que levar a sua própria mãe à montanha, respeitando as regras do vilarejo, para honrar o nome da família.

Por mais que ele tenha sido um filho dedicado, ele tinha que obedecer às obrigações da comunidade; caso contrário, não haveria mais lugar para a sua família naquele vilarejo.

E, assim, seguindo ao que foi estabelecido, chegou o dia em que o jovem camponês teve que carregar a sua mãe em suas costas e levá-la até o topo da montanha.

Porém, no percurso, no meio da mata densa, percebeu que a sua mãe, agarrada às suas costas, ia deixando cair pequenos pedaços de galhos de árvore pelo chão.

E pensou meio desconfiado: “Será que ela está com medo de ser abandonada e vai tentar voltar para casa, seguindo o rastro dos galhos que ela deixou cair pelo caminho? Ela, que sempre foi muito corajosa e guerreira, está mostrando sua fraqueza diante do fim trágico?”

Depois da longa jornada até o cume da montanha, finalmente eles chegaram ao local de despedida.

Nesse momento, sua mãe agarrou-se à roupa do filho e disse: “Chegou a hora de te dizer adeus. Cuide-se bem, meu filho. Como foi um longo caminho floresta adentro, fiquei preocupada que você ficasse perdido e não soubesse o caminho de volta; por isso, deixei cair alguns galhos de árvore para que sirva de pista para chegar com segurança em casa. Vá tranquilo, meu filho. E boa sorte!”

Despediu-se do seu filho, em reverência, com as mãos juntas.

Vendo essa (boa) ação da mãe, o jovem camponês não se conteve e caiu em prantos.

Ele estava envergonhado de ter duvidado de sua mãe, quando a estava abandonando.

Como ele poderia deixar a sua mãe desprotegida dessa maneira? Arrependeu-se do que fez, colocou-a nas suas costas e a levou de volta para casa para cuidá-la até o resto da sua vida.

O monge japonês concluiu dizendo a Einstein:

“O amor dessa mãe é como a Compaixão do Buda. Se a mãe fosse abandonada ali na montanha, certamente, iria morrer congelada ou devorada pelos lobos, ou ainda padeceria de inanição. Mesmo sendo colocada nessa situação, em vez de pensar em si mesma, sua única preocupação era que o seu amado filho pudesse chegar são e salvo à sua casa. Mesmo que ela fosse abandonada, ela nunca iria abandonar o seu filho. Mesmo que ela fosse condenada à morte, ela somente pensaria na salvação do seu filho. Isso é como a Compaixão do Buda!”

A Lenda Ubasuteyama também inspirou o filme “A Balada de Narayama”, de 1982, do diretor Shohei Imamura, que ganhou o prêmio Palma de Ouro, em Cannes.

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