ESCOTISMO E MEIO AMBIENTE

Rubem Perlingeiro
Rubem Perlingeiro
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escotismo e meio ambiente

05 de Junho – Dia Mundial do Meio Ambiente

Rubem Perlingeiro*

“O Escotismo legitimou a Natureza como o centro da minha vida.”
(Edward O. Wilson)

O tema do Dia Mundial do Meio Ambiente 2023, celebrado em 5 de junho, é “soluções para a poluição plástica”, sendo, portanto, uma ótima oportunidade para se estimular a conquista da Insígnia Plastic Tide Turners (na UEB, “Reduzir. Reciclar. Reutilizar”). 

Este ano marca o 50º aniversário do Dia Mundial do Meio Ambiente, após ter sido instituído pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 1972.

O ESCOTEIRO É BOM PARA OS ANIMAIS E AS PLANTAS: este é um dos dez artigos da Lei escoteira e um dos pilares do que é ser Escoteiro. Desde a sua criação em 1907, o Escotismo dá aos jovens a oportunidade de conhecer e valorizar o meio ambiente, bem como o que deve ser feito para conservá-lo. Como complemento à educação da escola e da família, o Movimento Escoteiro oferece aos jovens do século XXI a oportunidade de vivenciar a Natureza. Nas palavras de Baden-Powell, “ar livre é o objetivo verdadeiro do Escotismo e a chave para o seu sucesso” (Guia do Chefe Escoteiro).

Ainda segundo Baden-Powell, “ar livre é, por excelência, a escola da observação e compreensão das maravilhas deste grandioso universo. Ele abre o espírito, habituando-nos a apreciar a beleza que está diariamente diante de nossos olhos e não vemos. Ele revela aos jovens da cidade esse mundo de estrelas que se escondem atrás dos arranha-céus e que as luzes da cidade e a fumaça das fábricas não permitem admirar (…). O estudo da natureza engloba, em um conjunto harmonioso, todas as questões e problemas do infinito, do mundo macro e microscópico e de sua história, tudo como parte integrante da maravilhosa obra do Criador” (Guia do Chefe Escoteiro).

Edward Osborne Wilson, famoso e premiado cientista, considerado um dos maiores ambientalistas do mundo (falecido em dezembro de 2021), disse, em sua autobiografia “Naturalista”, que “o Escotismo parecia inventado exatamente para mim”. “O Manual para Escoteiros, que comprei por meio dólar em 1940, tornou-se a minha posse mais querida”. O Manual estava cheio de informações sobre a vida ao ar livre, mas o que realmente chamou a atenção de Wilson foram as seções sobre zoologia e botânica com “páginas e mais páginas de animais e plantas maravilhosamente bem ilustradas, explicando onde encontrá-los, como identificá-los”. “As escolas públicas e a igreja não ofereciam nada disso”, continuou. “O Escotismo legitimou a Natureza como o centro da minha vida.”

Como visto, a proteção do meio ambiente está no DNA do Movimento Escoteiro. Mas foi na 23ª Conferência Mundial realizada em Tóquio em agosto de 1971, que o tema foi formal e institucionalmente debatido, aprovando-se a primeira resolução sobre meio ambiente em nível mundial: a Resolução n° 12/71, que “lembra a todas as Organizações Escoteiras Nacionais que a preocupação contínua com a conservação do meio ambiente é uma extensão das atividades ao ar livre do Escotismo; apela a uma ação continuada para a conservação do meio ambiente, devido à sua urgência e importância; incentiva as Organizações Escoteiras Nacionais a aumentarem a sua cooperação com outras organizações que trabalham pelo patrimônio natural da humanidade”.

Eis o texto original da referida Resolução: “The Conference reminds all Scout Organizations that our continuing concern for conservation is an extension of Scouting’s out-of-doors activities and woodcraft training; calls for continued action for conservation of the whole environment because of its urgence and importance; encourages National Scout Organizations to more intensive efforts and cooperation with other organizations working for the man’s natural heritage.”

De 1971 para cá, muitas resoluções sobre meio ambiente foram aprovadas pela Conferências Escoteiras Mundiais (Resoluções n°s 06-1988, 13-1990, 11-1993, 18-2005, 22-2008 e 08-2021), além da Resolução 08-2017, que destaca a importância do envolvimento do Escotismo com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). 

E, em 2017, na 41ª Conferência Escoteira Mundial do Azerbaijão, a Natureza teve a sua importância ainda mais destacada quando se decidiu que deve ser um elemento específico do Método Escoteiro, da mesma forma que a Promessa e a Lei Escoteira, o Aprender Fazendo, a Progressão Pessoal, o Sistema de Equipe, o Apoio do Adulto, o Marco Simbólico e a Participação Comunitária, os quais compõem os oito elementos do novo texto do Método Escoteiro.

Devido às imensas possibilidades que a Natureza oferece para o desenvolvimento dos potenciais físicos, intelectuais, afetivos, sociais e espirituais do jovem, ela proporciona o cenário ideal para que se possa aplicar o Método Escoteiro. A maioria das oportunidades de aprendizagem deve permitir aos Escoteiros que estejam em contato direto com a Natureza, seja em ambientes urbanos ou rurais.

A Natureza, como elemento do Método Escoteiro, implica mais do que atividades realizadas ao Ar Livre. Implica no desenvolvimento de um contato construtivo com o Meio Ambiente, fazendo o uso pleno de todas as oportunidades de aprendizagem proporcionadas pelo mundo natural para contribuir com o desenvolvimento dos jovens.

É importante destacar que na última Conferência Escoteira Mundial (realizada virtualmente em agosto de 2021) a Sustentabilidade Ambiental foi aprovada como área estratégica da Organização Mundial do Movimento Escoteiro (WOSM).

Com essa medida, as Organizações Escoteiras Nacionais são incentivadas a implementar planos de ação que cooperem com a sua sustentabilidade ambiental e com a mitigação das mudanças climáticas.

Nessa Conferência também foi aprovada a Resolução nº 08/2021, que colocou importantes desafios para a WOSM:

– desempenhar um papel de liderança no combate às alterações climáticas;

– implementar um sistema de monitoramento do impacto ambiental causado por suas operações;

– tornar-se uma organização com reconhecimento de carbono zero até 2033, incluindo com impacto nos seus fornecedores e prestadores de serviços;

– criar um padrão de sustentabilidade para todos os eventos WOSM.

As oportunidades de aprendizagem na vida ao ar livre proporcionam ao jovem uma compreensão melhor e mais ampla da sua relação com o mundo à sua volta.

Como um Movimento que conta hoje com cerca de 57 milhões de membros ao redor do mundo e que tem os ODS como um guia fundamental de suas ações estratégicas, o Escotismo leva muito a sério a sua responsabilidade para com a vida e a saúde do Planeta Terra e, por meio do seu programa educativo, busca contribuir com a mitigação dos efeitos humanos sobre o clima e a biodiversidade, em especial com os seis ODS relacionados com a questão ambiental:

ODS 6 – Água Potável e Saneamento

ODS 7 – Energia acessível e limpa

ODS 12 – Consumo e Produção responsáveis

ODS 13 – Ação contra a mudança global do clima

ODS 14 – Vida na água

ODS 15 – Vida terrestre

Reconhecendo a contribuição positiva do Escotismo para o meio ambiente, o PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, o WWF – World Wildlife Foundation e a Solafrica mantêm parcerias com a Organização Mundial do Movimento Escoteiro.

Dentro de um extenso programa de atividades, os Escoteiros são constantemente incentivados a conservar o meio ambiente e a passar essa consciência da conservação ambiental à comunidade, seja por meio do Programa Tribo da Terra, que, com as insígnias “Campeões da Natureza”, “Reduzir. Reciclar. Reutilizar” e “Escoteiros pela Energia Solar”, incentiva e reconhece os esforços dos Escoteiros que realizam atividades de cunho prático para auxiliar na conservação dos recursos naturais e inibição de processos de comercialização e extinção da fauna silvestre, na divulgação da importância do combate às mudanças climáticas e do uso de fontes de energia renovável e limpa, na redução do uso de plásticos descartáveis, seja através dos projetos desenvolvidos no âmbito do Programa Mensageiros da Paz, ou ainda por meio mutirões ecológicos ou comunitários, que incentivam ações que vão desde a limpeza de rios e praias, passando por ações de reciclagem de lixo e plantio de árvores, até a sensibilização da comunidade com respeito à importância da causa ecológica para o futuro do planeta.

Sem contar as especialidades que podem ser conquistadas pelos jovens que tenham interesse no tema, que, no caso dos Escoteiros do Brasil, podem ser: Ciências da Terra, Criação de Animais de Estimação, Horticultura, Jardinagem, Meliponicultura, Oceanologia, Ornitologia, Plantas Medicinais, Proteção de Animais Silvestres, Reciclagem, Saneamento Ambiental e Zoobotânica.

Cada Grupo Escoteiro (mais de mil e quinhentos no Brasil) é estimulado a desenvolver atividades de conservação do meio ambiente na sua comunidade, seja no campo ou na cidade, para que essas atividades sejam relevantes localmente promovendo assim um impacto positivo global. Dessa forma, tanto o jovem aprende a importância e a responsabilidade das suas ações em um contexto local e global, quanto contribui para sociedade como um todo, ajudando a que o meio ambiente seja defendido e preservado para as presentes e futuras gerações.

*Rubem Perlingeiro é Presidente do Comitê Escoteiro Interamericano

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